sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Carreira Jornalística

Resenha sobre o texto Declínio e Morte do Jornalismo como Vocação para a matéria Processos Jornalísticos, em Maio de 2007.

Carreira Jornalística

Vocação é a combinação de inteligência, conhecimento, destreza e sensibilidade aliada ao saber narrar. Assim define Bernardo Kuciski, em seu texto intitulado “Declínio e Morte do Jornalismo como Vocação”, a característica principal de um jornalista.

Segundo ele, existe o velho e o atual jornalismo, que são demarcados, entre outros motivos, pela vocação, tida como essencial no passado, e considerada desnecessária nos dias de hoje. Notabilizando uma grande diferença entre o jornalista por vocação e o jornalista por profissão.Essa diferença entre os profissionais, também é ressaltada por Cláudio Abramo, em seu texto “A Regra do Jogo”, que acredita na formação do profissional enquanto jovem, e ressalta a imprescindível formação cultural sólida, importante para exercer a profissão.
Segundo Abramo, a essência de cada situação é importante, devendo ser transmitida ao leitor. Porém isso nem sempre acontece, já que a sensibilidade necessária é somente mérito de um jornalista “vocacionado”.

Quanto a isso, a criação das faculdades de jornalismo e a forma como “ensinam” o fazer jornalístico, são abordadas, já que, resultam numa padronizada e muitas vezes ineficaz prática jornalística.Ilustrando essas situações, o filme do diretor Cameron Crowe, “Quase Famosos”, nos mostra essas e outras circunstâncias com as quais os jornalistas se deparam e lidam em seu dia-a-dia.

Exemplificando a definição de Bernardo Kuciski, para vocação, William, o personagem principal do filme, mostra além de inteligência e maturidade, que a sorte caminha ao lado da persistência, e que a presença do jornalista na hora e lugar certo aliados às palavras para as pessoas certas, resulta em oportunidades únicas. Mas, para que estas, sejam devidamente aproveitadas, é preciso cuidado. A grande proximidade com o universo retratado, deve resultar em separação das instâncias envolvidas, e o interesse deve aliar-se a vocação, para que a imagem de um profissional intelectual e crítico seja passada.
O filme também exemplifica algumas características citadas por Fernando Correia, em seu texto intitulado “Os Jornalistas e a Notícia”, em que considera a profissão atraente aos jovens, devido à mobilidade, aventura, risco e imprevisibilidade.

O protagonista de apenas quinze anos, demonstra-se disposto a enfrentar essas e outras situações, e movido pela curiosidade, adquire experiências essenciais para sua formação como jornalista, que, como questiona Cláudio Abramo, as faculdades, não possibilitam.
Porém, credibilidade independe de vocação, e como William, o jornalista pode ser considerado inimigo por sua fonte de pesquisa, o que dificulta seu trabalho.

Resta saber se por sorte ou azar. Mas a aparição dos inimigos acontece, e são eles a polícia, a quem não se deve confiar segredos; e os parceiros, que ao exigirem que o gravador seja desligado para dizerem a verdade, comprometem a veracidade da informação e sua posterior publicação.A expressão off the record é constante para os jornalistas, e é preciso saber lidar com ela. Ciro Marcondes Filho, que é mencionado no texto “Ética e Imprensa” de Eugênio Bucci, apresentou uma tábua de pecados com deslizes relatados por quem está de fora das redações.

Uma delas é: Gravar algo à revelia;

Ou seja, o consentimento das declarações, ainda representa um desafio para os jornalistas.
William passa por essa situação, e ao final de seu trabalho, não obtém o resultado esperado, desacreditando assim, em sua reportagem “honesta e impiedosa”.
Sobre esse assunto, podemos citar Paul Johnson, que também é mencionado por Eugênio Bucci, em seu texto “Ética e Imprensa”, mas por suas regras propostas, para nortear o trabalho dos jornalistas e orientar o público, que deve exigir informação de qualidade.
Assim, dos Dez Mandamentos criados por ele, dois poderiam ter embasado o ainda inexperiente “jornalista vocacionado”:

Pensar nas conseqüências do que se publica.
Contar a verdade não é o bastante. Pode ser perigoso sem julgamento informado.
De qualquer forma, a principal revista norte-americana sobre o assunto publicou sua reportagem, e a possibilidade de rápida ascensão na profissão, devido às inúmeras portas que se abriram, o fizeram repensar a decisão de abandonar a carreira.
Retratando então, mais um problema com o qual o jornalista é praticamente obrigado a enfrentar em seu cotidiano: a frustração. Que nem sempre se deve a repercussão inesperada, mas sim à ausência dela.
E esse fato pode ser atribuído ao formato das notícias, que muitas vezes consagrados, não emplacam quando são alterados. Em contrapartida, há algumas regras pouco definidas, que dificultam o trabalho do jornalista e acarretam na alteração desses formatos, e em determinadas situações resultam na não publicação.

Por fim, é importante abordarmos a relação entre vocação, trabalho e a forma como este é remunerado, já que isso implica diversas situações, maneiras e valores.
Utilizando o filme como exemplo, temos o retrato de uma profissão mal remunerada, porém, com privilégios e vantagens, visto que o jornalista viajou com a banda, foco de sua entrevista, assistiu a todos os shows da turnê, e adquiriu novas amizades e experiências de vida.
Além do que, quando um profissional exerce a carreira de sua vocação, a facilidade de execução do trabalho e o prazer que é incorporado a sua rotina, resulta em satisfação e motivação para carreira. O que engrandece o profissional e melhora a qualidade de suas produções.

Porém sabemos que as vocações nem sempre são incentivadas, e a maioria desconhece seu talento. O que resulta em profissionais, que se formam sem ter como pré-requisito a vocação.Sendo assim podemos retomar Bernardo Kuciski, e entender suas lamentações, à medida que cada profissional que exercia o considerado por ele velho jornalismo, morrem, já que suas formas de fazer jornalismo encontram-se em extinção.

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